terça-feira, 30 de agosto de 2016

CLAES OLDENBURG

Sou a favor de uma arte...


Sou a favor da arte que o garoto lambe, depois de rasgar a embalagem.

Sou a favor da arte tragável como os cigarros e fedorenta como os sapatos.

Sou a favor da arte que se enrosca e grunhe como os lutadores.

Sou a favor da arte que solta pelo.

Sou a favor da arte que você senta em cima.

Sou a favor da arte sob as saias, e da arte de esmagar baratas.

Sou a favor da arte que diz as horas, ou onde fica essa ou aquela rua.

Sou a favor da arte que ajuda velhinhas a atravessar as ruas.

Sou a favor da arte das capas de chuva de guerras passadas.

Sou a favor da arte que sai como vapor dos bueiros no inverno.

Sou a favor da arte que estilhaça quando se pisa numa poça congelada.

Sou a favor da arte dos vermes dentro da maçã.

Sou a favor da arte do suor que surge entre as pernas cruzadas.

Sou a favor da arte de rebocos e esmaltes baratos.

Sou a favor da arte do mármore gasto e da ardósia britada.

Sou a favor da arte das pedrinhas espalhadas e da areia deslizante.

Sou a favor da arte das aves mortas.

Sou a favor da arte das marcas no asfalto e das manchas na parede.

Sou a favor da arte de pancadas e joelhos arranhados e traquinagens.

Sou a favor da arte dos cheiros das crianças.

Sou a favor da arte dos murmúrios das mães.

Sou a favor da arte de cair dos bancos dos botecos.

Sou a favor da arte de roupas íntimas e táxis.

Sou a favor da arte das casquinhas de sorvete derrubadas no asfalto.

Sou a favor da arte que pisca, iluminando a noite.

Sou a favor da arte de pneus de caminhões imensos e olhos roxos.

Sou a favor da arte de estalido das nozes com o vai e vem das baratas.

Sou a favor da arte triste e marrom das maçãs apodrecendo.

Sou a favor da arte do mofo e da ferrugem.

Sou a favor da arte de objetos perdidos ou jogados fora na volta da escola.

Sou a favor da arte das caixas abandonadas, enfaixadas como faraós.



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