sábado, 24 de março de 2012

Teatro/CRÍTICA

"A primeira vista"

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Se lhe parece, assim é...


Lionel Fischer


"Nada é suficiente". Esta frase é repetida algumas vezes durante o espetáculo e permite, no mínimo, duas interpretações. A primeira, um tanto óbvia: um permanente estado de frustração. Já a segunda me parece mais instigante: o nada em questão seria um valor em si e, por que não? - suficiente. Mas qual das duas frases seria a mais pertinente em função do contexto? Ambas, talvez, ou quem sabe até uma terceira derivada das anteriores.

E é esta ambigüidade, esta permanente possibilidade de múltiplas interpretações que confere um interesse todo especial a "A primeira vista", de Daniel MacIvor, que acaba de entrar em cartaz no Teatro Poeira. Enrique Diz assina a direção, estando o elenco formado por Drica Moraes e Mariana Lima.

Em termos de enredo, a peça é bastante simples: mostra a relação de duas amigas que acampam, tentam formar uma banda de rock, têm um momento amoroso, tecem considerações sobre a vida. Nada de muito especial ou trascendente, já que estamos diante de duas pessoas comuns.

No entanto, esta aparente banalidade ganha contornos deliciosos 
porque dificilmente ambas concordam, seja quando discutem um fato ou o narram para a platéia. Esta, sem saber jamais aonde está a verdade, estabelece a sua, ainda que a mesma possa ser mais adiante desmentida.

E a ótima encenação de Enrique Diz está em perfeita sintonia com essa permanente alternância de pontos de vista - uma mesma passagem, por exemplo, é feita quase sempre de maneiras diversas, com as atrizes ora contracenando frontalmente, ora sem se olhar. Afora issso, cabe destacar a criativa forma como o encenador trabalha as pausas, sempre impregnadas de dúbios significados, e a imensa poesia da cena em que as atrizes, dentro de uma caixa de luz, relacionam-se com a mesma.

Com relação a Mariana Lima e Drica Moraes, confiro às duas os mesmos e apaixonados elogios. Estamos diante de duas atrizes completas, senhoras absolutas de seus vastos recursos interpretativos. E que evidenciam não apenas seu enorme prazer de estar em cena, mas também a inteligência de suas escolhas e a ótima contracena que estabelecem. Sob todos os aspectos, a atuação de ambas é um verdadeiro presente para aqueles que amam a complexa arte de representar. 

E no tocante a Drica Moraes, que travou longa batalha contra o destino e não se curvou à sua aparentemente inexorável vontade, faço questão de registrar minha emoção de vê-la retornar aos palcos e à vida mais talentosa e linda do que nunca. Que os sempre caprichosos deuses do teatro continuem abençoando sua luminosa trajetória.

Com relação à equipe técnica, destaco com o mesmo entusiasmo os trabalhos de todos os profissionais envolvidos nesta divertida e curiosa empreitada teatral - Marcos Chaves (cenografia), Antônio Medeiros (figurinos), Maneco Quinderé (iluminação), Fabiano Krieger e Lucas Marcier (música), Daniele Ávila (tradução) e Cristina Moura (preparação corporal).

A PRIMEIRA VISTA - Texto de Daniel MacIvor. Direção de Enrique Diaz. Com Drica Moraes e Mariana Lima. Teatro Poeira. Quinta a sábado, 21h. Domingo, 19h  

4 comentários:

  1. Eu amei a peça elas são excelentes atrizes!! E têm uma sintonia absurda!!
    Ah e fiquei muito feliz e emocionada em rever o trabalho da Drica Moraes.

    Ela é demais!!

    Lilian Marins

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  2. Lilian amiga:

    Elas são realmente atrizes maravilhosas! E a sintonia que exibem,bárbara!
    E rever a Drica foi super emocionante!
    Tomara que este espetáculo seja visto por muitos espectadores.
    Beijos,
    Eu

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  3. Eu estudei com a Drica no Colégio Andrews quando ainda morava no Rio de Janeiro no anos 80.
    Drica semprei foi um menina de fibra desde os tempos do Tablado. Estou muito interessado em ver esta peça que, certamente, o farei em breve.

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