quinta-feira, 7 de junho de 2012

Teatro/CRÍTICA

"Homens"

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Emocionado tributo no Leblon



Lionel Fischer


Jornalista, dramaturgo e escritor, o gaúcho Caio Fernando Abreu (1948-1996) deixou uma obra vasta e diversificada, em grande parte abordando temas como o amor, o sexo, o medo, a solidão e a morte. Valendo-se de uma escrita intimista e passional, marcada por absoluta sinceridade, o autor conquistou uma vasta legião de admiradores, e não apenas, como alguns pretenderam, restrita ao universo homossexual - ou será que o que vale para o amor entre pessoas do mesmo sexo perde a validade em se tratando de relações heterossexuais?

Baseado em contos, crônicas e correspondências, "Homens" está em cartaz no Teatro do Leblon, com adaptação e direção a cargo de Delson Antunes. No elenco, Danilo Sacramento, Thiago Chagas, Carlo Porto, Yuri Gofman, Igor Vogas, Vinícius Cristovão, Hilton Vasconcellos e Iuri Saraiva.

Ao que tudo indica, os contos foram extraído do volume "Morangos mofados", e as crônicas de "Pequenas epifanias" - esta suposição se baseia no fato de que a produção me presenteou com os dois livros, gentileza que agradeço de todo o coração. E mesclados, como já foi dito, a correspondências do autor, o resultado final faculta ao espectador uma visão abrangente do pensamento de um autor extremamente sensível, perspicaz observador da vida e das contradições humanas, aí incluindo-se, naturalmente, as relativas ao amor e ao sexo.

Estruturado a partir de cenas curtas, algumas das quais são interrompidas e mais adiante retomadas, o espetáculo dirigido por Delson Antunes presta um emocionado tributo ao brilhante autor gaúcho, materializando na cena, através de marcas diversificadas e expressivas, os principais conteúdos em jogo. A única ressalva que me permito fazer diz respeito à emenda entre as cenas, que, em minha opinião, poderiam ser feitas sem que necessariamente as luzes caíssem, para novamente serem potencializadas em seguida - as trocas cenográficas poderiam ser feitas às claras, não havendo necessidade de um intervalo, ainda que breve, entre as cenas.

No tocante ao elenco, os oito profissionais que estão em cena desempenham múltiplos papéis, inclusive o do próprio autor. E, embora alguns atores tenham maiores oportunidades, o que importa aqui não são destaques individuais, mas a força do conjunto. Assim sendo, a todos parabenizo pela competência e notável capacidade de entrega.

Na equipe técnica, a despojada cenografia de Teca Fichinski - composta basicamente de portas e janelas ao fundo - materializa simbolicamente o pensamento essencial do autor, para quem havia sempre a possibilidade de se trilhar novos caminhos, assim transcendendo todas as questões supostamente paralisantes. Ana Beviláqua responde por segura direção de movimento, a mesma eficiência presente na trilha sonora de Pedro Veríssimo e na iluminação de Luiz Paulo Nenen.

Quanto aos figurinos, Nello Marrese veste os atores com calças multicoloridas e camisas neutras, e me parece que a idéia deva ter sido a de enfatizar o duplo que existe em todos nós; no caso, o lúdico e o libertário, por um lado, e o burguês e o convencional, por outro. Caso tenha sido esta a premissa, ela é brilhante em sua aparente simplicidade.

HOMENS - Texto de Caio Fernando Abreu. Adaptação e direção de Delson Antunes. Com Thiago Chagas, Yuri Saraiva, Igor Vogas, Hilton Vasconcellos, Carlo Porto, Danilo Sacramento, Vinícius Cristovão e Yuri Gofman. Teatro do Leblon. Terça e quarta, 21h.

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