sábado, 12 de julho de 2014

Teatro/CRÍTICA

"Morro da Ópera"

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Bela e instigante montagem no Sesc



Lionel Fischer



"Diversas questões sociais são abordadas nas teias dessas histórias. O Morro da Ópera é um microcosmo da sociedade e embala dentro dela as convenções da família feliz que na verdade vive uma ilusão ou de aparências. De como o homem se apega a coisas pequenas e materiais e que após grandes tragédias dá mais valor às relações humanas".

Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima, escrito pela dramaturga e diretora Marcela Rodrigues, resume as premissas essenciais de "Morro da Ópera", em cartaz na Sala Mezanino do Espaço Sesc. Terceiro espetáculo da Troupp Pas D'argent (os anteriores foram "Cidade das donzelas" e "Holoclownsto"), este chega à cena com elenco formado por Carolina Garcês, Lilian Meireles, Marcela Rodrigues, Natalíe Rodrigues e Orlando Caldeira.

Optando por uma estrutura narrativa que mescla o presente e o passado, a autora me parece propor não uma história decorrente dos conflitos entre os personagens, mas flashes que retratam o cotidiano de uma comunidade carente. Muitos desses breves retratos são conflitantes, certamente, mas acredito que o principal objetivo tenha sido o de converter a dita comunidade em protagonista - se foi essa a intenção, a considero pertinente e muito bem-sucedida, pois os dramas dos menos favorecidos, ainda que exibam peculiaridades, em sua essência são análogos aos daqueles que da vida não conheceram seu lado mais amargo.

Contendo bons personagens, diálogos fluentes e um contexto que prende a atenção do espectador ao longo de toda a montagem, a versão cênica de "Morro da Ópera" é uma das mais interessantes da atual temporada. Impondo ao espetáculo uma dinâmica imprevista e criativa, lançando mão de marcações cuja expressividade decorre, em grande parte, de movimentos coreografados e também de notável domínio dos tempos rítmicos, Marcela Rodrigues exibe o mérito suplementar de haver extraído ótimas atuações do elenco.

Muito bem preparados fisicamente, todos os atores conseguem converter seus corpos em algo que poderia chamar de "massas expressivas". Ou seja: embora o universo sonoro não seja desprezado (palavra e canto), o jovem grupo se mostra capaz de valorizar gestos e movimentos em igual medida, conferindo grande unidade aos desempenhos. Assim, a todos parabenizo com o mesmo entusiasmo, e desejo longa e vitoriosa trajetória artística para este grupo tão singular.  

Na equipe técnica, Lilian Meireles e Orlando Caldeira assinam figurinos em total consonância com a personalidade e condição social dos personagens, cabendo salientar um detalhe muito interessante: as roupas dão a sensação de não terem sido perfeitamente finalizadas, o que me permite supor que, além de poderem ser usadas por vários personagens, sugerem um universo ainda por construir - se estiver enganado, que me perdoem.

Luiz Paulo Nenen responde por uma iluminação de grande expressividade, e que muito contribui para enfatizar os múltiplos climas emocionais em jogo. Igualmente irrepreensíveis a cenografia de Marcela Rodrigues - composta basicamente por diferenciadas escadas - e a trilha sonora e direção musical de Isadora Medella, que evidencia os mesmos méritos da iluminação. Finalmente, gostaria de destacar a precisão dos operadores de luz (Zoatha David) e de som (Jorge Florêncio), certamente determinantes para o perfeito andamento desta bela e original montagem

O MORRO DA ÓPERA - Texto e direção de Marcela Rodrigues. Com Carolina Garcês, Lilian Meireles, Marcela Rodrigues, Natalíe Rodrigues e Orlando Caldeira. Sala Mezanino do Espaço Sesc. Quinta a sábado, 21h. Domingo, 20h.





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