quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Não acredito...

O espelho
O falecido e ótimo ator Jaime Barcellos fazia Creonte numa montagem de Antígona, na Sala Cecília Meirelles, com direção de José Renato. Lá pelas tantas, um maquinista acionava um sistema que fazia descer sobre o intérprete um gigantesco espelho - lentamente e até uma determinada altura, é óbvio. Mas eis que uma noite, por distração ou por confundir-se com o emaranhado de cordas e roldanas que lhe cabia manusear, o pobre operador foi além do ponto combinado, só interrompendo a fatídica descida quando finalmente alertado - sem abandonar o texto, Barcellos o proferia aos urros, o que o ingênuo maquinista interpretou como imprevista e convincente ênfase...

A gorda
Exibida no Teatro Senac com direção de Sérgio Britto, Os Filhos de Kennedy tinha como cenário um bar, no qual havia uma poltrona reservada ao elenco. Mas o sucesso do espetáculo era tamanho que alguns retardatários às vezes insistiam em se aboletar ali, só saindo após serem convencidos da destinação do móvel. Até que numa noite, uma volumosa senhora recusou-se a corrigir seu engano geográfico. E por isso pagou um mico colossal... Como se nada de anormal estivesse acontecendo, José Wilker (extraordinário na pele de um gay) cumpriu sua marca, ou seja, sentou-se em cima da obesa e dalí só partiu quando julgou conveniente. É claro que o teatro veio abaixo de tanto rir e a gordona fez o que pôde para fingir que também estava achando tudo en-gra-ça-dís-si-mo! Mas passou o resto do espetáculo exibindo uma coloração um tanto ou quanto violácea...

Rasgado!?
Essa foi no interior de Minas, em cidade cujo nome nos escapa - aliás, todos os nomes dessa história nos escapam, mas ela é absolutamente verídica. A peça era um dramalhão de época e num dado momento, percebendo a chegada do marido, a mocinha atirava na lareira a carta do amante, o que levava o corno a dizer “Sinto cheiro de papel queimado”. Numa noite, porém, o contra-regra esqueceu-se de ligar a tal lareira, mas a atriz teve a presença de espírito de rasgar a carta. Muito bem: o que fez o soberbo canastrão que com ela contracenava? Disse apenas o seguinte: “Sinto cheiro de papel rasgado...”.

Dormia...
Numa apresentação de Dois Perdidos Numa Noite Suja, no Teatro Jovem, o autor Plínio Marcos fazia um dos papéis quando notou que uma música não entrara. Aguçando a vista, vislumbrou o sonoplasta adormecido. Sem hesitar, interrompeu o espetáculo, caminhou até a cabine e acordou o dorminhoco. Ao voltar para o palco, porém, não teve tempo de reiniciar a montagem: um senhor de certa idade exigia satisfações sobre a “falha imperdoável”. Gentilmente, Plínio Marcos tentou minimizar o incidente, até mesmo oferecendo-se para devolver o preço do ingresso ao histérico e a quem se sentisse prejudicado. A platéia, é claro, apoiou o autor, e diante do tumulto que se iniciava, o apoplético deixou a sala bradando: “Sou militar e na caserna isto jamais aconteceria!”. Ganhou uma vaia...

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