Sugestões para os ensaios
Viola Spolin
O presente artigo é um resumo do capítulo Ensaio e desempenho do livro
Improvisação para o teatro, de Viola Spolin (Tradução de Ingrid Dormien Koudela e Eduardo José de Almeida Amos, Editora Perspectiva, Coleção Estudos, 1963)
1ª parte
1. O diretor deve confiar na formação do seu elenco. Um grande temor às vezes aparece, nos ensaios iniciais, de que tenha errado na escolha dos atores. Se isto realmente acontecer, reformule seu elenco o mais rapidamente possível, pois sua atitude afetará todos os outros.
2. Sem que o elenco saiba, selecione dois atores que sirvam como barômetro: um cuja resposta seja de alto nível, e outro cujo nível de resposta seja baixo. Dessa forma, você sempre saberá se está dando muito ou pouco nos ensaios.
3. Não permita que seus atores fiquem com os olhos fixos nos textos quando outros atores estiverem lendo. Observe isso mesmo nas leituras de mesa e lembre-os que devem observar e ouvir os outros atores sempre que necessário.
4. Evite os hábitos de leitura artificial desde o primeiro momento. Use exercícios especiais se necessário.
5. Trabalhe as retomadas de “deixas” naturalmente, fazendo os atores trabalharem com as “deixas” para ação. Não as trabalhe mecanicamente. Se for necessário trabalhar com as “deixas” para fala, espere até o final da segunda parte dos ensaios ou o início da terceira parte.
6. Evite estabelecer personagem, falas, movimentação ou marcação muito cedo. Um esboço geral é tudo que precisa. Há muito tempo.
7. Os detalhes não são importantes nessa primeira parte. Não deixe seus atores ansiosos. Uma vez estabelecidos os personagens e os relacionamentos, será fácil trazer os detalhes para o palco. Portanto, a realidade de cada cena dentro da peça deve ser encontrada.
2ª parte
Este é um período de escavações. O ator agora está pronto para uma utilização mais completa de sua criatividade. Na medida em que ele traz ações para o palco através de exercícios ou leituras do texto, o diretor as toma e acrescenta alguma coisa, se necessário. A peça está mais ou menos marcada, e todos estão quase completamente livres das falas. Os relacionamentos estão claros.
1. O início da autodisciplina. Sem conversas nas coxias ou na platéia. É neste período que as atitudes e comportamentos no palco e fora dele devem ser estabelecidos.
2. Se a base foi bem sedimentada, o diretor pode se orientar diretamente para a ação no palco sem perigo de intromissão na criatividade dos atores, ou do aparecimento de uma qualidade estática. Ele pode persuadir, implorar, gritar, e dar os passos precisos sem desenvolver ansiedades nem parar a espontaneidade. Não haverá perigo de ele impedir ou bloquear o trabalho dos atores no palco.
3. Alguns exercícios da primeira parte podem ser continuados aqui, se necessário.
4. A energia do diretor deve estar num nível alto e aparente para os atores.
5. Observe se não há sinais de bolor e corrija-os rapidamente.
6. Trabalhe para uma caracterização mais intensificada. As nuances de marcação e atividade também são importantes e devem ser assinaladas.
7. Os ensaios localizados, quando feitos, devem ser levados a cabo completamente, repetindo uma cena várias vezes até que a completa realização e clímax tenham sido alcançados.
8. Use o problema de atuação da oficina de trabalho nos ensaios localizados quando necessário.
9. Se o elenco todo pode se encontrar três vezes por semana, o diretor deve trabalhar diariamente com ensaios localizados.
10. O diretor deve começar a construir as cenas uma sobre a outra. Cada cena tem seu próprio começo e fim, e seu próprio clímax. Cada cena subseqüente deve estar acima da anterior - como uma série de degraus, um pouco mais alto que o anterior.
11. Após o grande clímax da peça, as cenas subseqüentes caminham suavemente para o final.
12. Trabalhe, sempre que possível, ao ar livre. A necessidade de suplantar as distrações do ambiente externo amadurece os atores.
13. Faça os atores ensaiarem descalços e de calções (se o clima permitir). Você poderá então observar todas as ações corporais e dizer rapidamente se um ator está verbalizando ou fisicalizando a situação do palco.
14. Além de observar, ouça seus atores. Vire-se de costas para o palco e concentre-se no diálogo somente. As leituras superficiais, as falas descuidadas e não trabalhadas etc. aparecerão muito claramente para o diretor.
15. O diretor não deve permitir que um sentido de urgência faça com que ele interrompa um ensaio corrido. Tome nota da ação que pode ser repetida mais tarde. Lembre-se, há muito tempo para trabalhar.
16. Se os atores parecem estar trabalhando em desacordo com o diretor, ele deve verificar o tema geral. Existe um tema geral? O elenco e o diretor estão trilhando o mesmo caminho?
17. O terceiro ato pode aparecer por si mesmo. Propicie mais trabalho e ensaios localizados para o primeiro e segundo atos. Se o relacionamento e os personagens estiverem bem estabelecidos, o terceiro dá a solução da peça.
18. Algumas cenas precisam ser repetidas uma dúzia de vezes para que corram suavemente. Outras precisam de muito pouco trabalho, além dos ensaios regulares. Qualquer cena que tenha efeitos especiais não deve parecer desajeitada e sem graça na apresentação do espetáculo, mesmo que isto custe horas de trabalho.
3ª parte
Este é o período de polimento. A jóia foi cortada e avaliada, agora você deve terminar a lapidação e embalar adequadamente. A disciplina deve estar em seu grau mais alto. Os atrasos para os ensaios e a não leitura do quadro de avisos do diretor devem ser tratados severamente. O diretor está agora preparando seus atores para um espetáculo, no qual um ator atrasado ou um adereço de cena fora do lugar pode arruinar todo o trabalho.
A organização dos bastidores deve começar simultaneamente ao trabalho de palco, e as regras devem ser observadas. Na maioria dos teatros pequenos, a equipe também é composta de pessoal não profissional. Contra-regras, sonoplastas e iluminadores devem prestar tanta atenção e assumir responsabilidade como os atores; sua responsabilidade deve ser formada ensaio após ensaio. Qualquer criança de 10 anos pode trabalhar no controle das luzes eficientemente se todos demonstrarem respeito por ela e ao seu trabalho.
Ensaios localizados
Na terceira parte dos ensaios, o diretor encontrará muitos pontos sutis que precisam ser trabalhados. A essa altura do trabalho, os ensaios corridos devem acontecer suavemente, o processo de amadurecimento já deve ter ocorrido, e as caracterizações estão bem configuradas. O diretor pode ir além disso com atores não profissionais? O problema de ritmo e sentido de tempo e as distinções mais sutis de personagem estão além do alcance? O ritmo, o sentido de tempo e os detalhes mais aprimorados do personagem desenvolvem-se a partir da realidade essencial da cena.
Este é o ponto onde o ensaio localizado é de inestimável valor, pois a descoberta dessa realidade sempre acontece aqui. O diretor deve programar tantos ensaios localizados quanto possível durante este período. Mesmo que os atores possam ir aos ensaios somente três vezes por semana, ele pode programar ensaios localizados para cada dia.
A reavalização do diretor
O diretor deve agora reler a sua peça num lugar calmo, sem as tensões do teatro. A peça agora será mais do que uma projeção do seu ideal. Ele estará encontrando-se com o autor novamente, e como um médico que observa os sintomas de seu paciente, ele irá provavelmente ver quais são os problemas do seu espetáculo – e isto enquanto ainda tem tempo para trabalhar e solucionar.
A releitura ajudará o diretor a manter a realidade e o tema, observando a ação da peça e descobrindo onde ela está indo. Ele verá seus atores em movimento e será capaz de identificar as nuances que podem ser acrescentadas aos personagens, as maneiras de fortalecer climas, de construir o clímax etc. Tudo isso virá rapidamente com esse novo contato com o texto.
Pela primeira vez o diretor poderá coordenar num quadro definido todas as confusas imagens dos ensaios. Ele poderá visualizar o palco em dimensão, cor e ação. Isso irá aliviar suas ansiedades da mesma maneira que o Ensaio Relaxado alivia os atores. Sem dúvida, ele verá seu espetáculo.
Ver o espetáculo
“Ver o espetáculo” é simplesmente o diretor ter uma compreensão maior de sua produção – o momento quando ele repentinamente vê todos os aspectos integrados. De repente haverá ritmo, caracterização, fluência e unidade. Muitas cenas podem ainda estar sem polimento, o cenário longe de estar terminado, e alguns atores ainda perambulando pelo palco; mas, no todo, aparecerá um trabalho coeso, unificado.
O diretor pode ver esse espetáculo unificado por um instante e não vê-lo mais por vários ensaios. Mas isso não é causa para preocupação - ele viu, ele verá novamente. Ele deve limpar os pontos mais obscuros, fortalecer os relacionamentos, intensificar o envolvimento e fazer algumas alterações.
Uma vez que ele tenha “visto o espetáculo”, ele deve aceitá-lo mesmo que sinta que deveria ser diferente. Esta é a coisa mais importante. Há poucos diretores que não ficam completamente satisfeitos com suas produções. Para trabalhar com jovens e adultos não experientes, o diretor deve estar consciente das suas limitações e capacidades. Se ele não estiver satisfeito com o seu espetáculo por causa da limitação dos seus atores, ele deve, contudo, reconhecer que neste estágio de desenvolvimento, isso é tudo que ele pode esperar deles. Se houver integridade, vida, atuação verdadeira e alegria no espetáculo, então será um trabalho digno de ser visto.
O medo do palco no diretor
Se o diretor não aceitar seu espetáculo neste período adiantado, ele passará seus problemas emocionais para seus atores. A esta altura do trabalho ele fica com “medo do palco”. Ele fica preocupado com a possibilidade da platéia gostar ou não do seu espetáculo. Este sentimento deve ser ocultado dos atores. O próprio processo de fazer um espetáculo tem uma grande dose de excitação natural. Se ele acrescentar seu próprio sentimento de nervosismo, os atores pegarão isso dele. Durante esse período, o diretor pode sentir-se irritadiço, e seria aconselhável que ele explicasse aos atores, avisando que ele às vezes pode ser áspero e grosseiro durante o processo de integração dos elementos técnicos da peça. Os atores serão muito solidários para com ele.
O diretor que preocupa seus atores até o último minuto, esperando sempre tirar um pouco mais deles, não auxiliará a peça de maneira alguma. Uma forma de evitar esse “medo do palco” é dedicar-se aos aspectos técnicos da peça nos últimos ensaios.
Sugestões finais
1. Fique longe dos bastidores durante o espetáculo. Tudo deve ser tão bem organizado que corra sem problemas. Recados podem sempre ser mandados para os bastidores, se necessário.
2. Certifique-se de que os figurinos estão todos com botões e com as costuras em ordem. Um corredor que não tem certeza se o seu calção vai ficar bem preso à cintura ou não, não estará livre para correr.
3. Seja calmo e agradável se tiver que ir até os camarins.
4. Dê uma passada geral na peça entre os espetáculos, se possível. Se isto não for possível, uma rápida conversa após o espetáculo ajudará a eliminar algumas pequenas falhas que possam eventualmente aparecer.
5. Uma rápida passada para verificar as falas antes do espetáculo pode ser necessário de vez em quando.
6. Ensaios durante uma temporada de uma peça ajudam os atores a manter o foco nos problemas da peça e evitam que eles generalizem. Eles também deixam muito claras as falhas que apareceram.
7. Os atores devem aprender a deixar a platéia rir à vontade. Desde o início comece a treiná-los com a simples regra de permitir que o riso atinja seu pico para então começar a baixá-lo com um movimento antes de começar a próxima fala.
8. A disciplina nos bastidores deve ser observada estritamente e sempre.
9. Os atores crescerão em estatura durante os espetáculos se todos os fatores permitirem. O palco é o raio X, onde todos os elementos estruturais aparecem. Se a peça for apresentada de maneira desajeitada, se seus “ossos” forem fracos, isto tudo será visto, assim como qualquer objeto estranho num raio X. As caracterizações e relacionamentos falsos e desonestos aparecerão. Isto pode ser compreendido e deve ser enfatizado para os atores sempre que necessário.
10. Trabalhar segundo o plano de ensaio sugerido neste capítulo pode não produzir um ator completamente amadurecido em seu primeiro espetáculo, mas o colocará bem a caminho.
11. Se, no final de uma série de espetáculos, os atores decidirem “enterrar o espetáculo”, lembre-os que o último espetáculo para eles é o primeiro para a platéia. O divertimento deve vir do próprio espetáculo, e não de brincadeiras de mau gosto feitas com seus colegas atores.
* * *
Viola Spolin
O presente artigo é um resumo do capítulo Ensaio e desempenho do livro
Improvisação para o teatro, de Viola Spolin (Tradução de Ingrid Dormien Koudela e Eduardo José de Almeida Amos, Editora Perspectiva, Coleção Estudos, 1963)
1ª parte
1. O diretor deve confiar na formação do seu elenco. Um grande temor às vezes aparece, nos ensaios iniciais, de que tenha errado na escolha dos atores. Se isto realmente acontecer, reformule seu elenco o mais rapidamente possível, pois sua atitude afetará todos os outros.
2. Sem que o elenco saiba, selecione dois atores que sirvam como barômetro: um cuja resposta seja de alto nível, e outro cujo nível de resposta seja baixo. Dessa forma, você sempre saberá se está dando muito ou pouco nos ensaios.
3. Não permita que seus atores fiquem com os olhos fixos nos textos quando outros atores estiverem lendo. Observe isso mesmo nas leituras de mesa e lembre-os que devem observar e ouvir os outros atores sempre que necessário.
4. Evite os hábitos de leitura artificial desde o primeiro momento. Use exercícios especiais se necessário.
5. Trabalhe as retomadas de “deixas” naturalmente, fazendo os atores trabalharem com as “deixas” para ação. Não as trabalhe mecanicamente. Se for necessário trabalhar com as “deixas” para fala, espere até o final da segunda parte dos ensaios ou o início da terceira parte.
6. Evite estabelecer personagem, falas, movimentação ou marcação muito cedo. Um esboço geral é tudo que precisa. Há muito tempo.
7. Os detalhes não são importantes nessa primeira parte. Não deixe seus atores ansiosos. Uma vez estabelecidos os personagens e os relacionamentos, será fácil trazer os detalhes para o palco. Portanto, a realidade de cada cena dentro da peça deve ser encontrada.
2ª parte
Este é um período de escavações. O ator agora está pronto para uma utilização mais completa de sua criatividade. Na medida em que ele traz ações para o palco através de exercícios ou leituras do texto, o diretor as toma e acrescenta alguma coisa, se necessário. A peça está mais ou menos marcada, e todos estão quase completamente livres das falas. Os relacionamentos estão claros.
1. O início da autodisciplina. Sem conversas nas coxias ou na platéia. É neste período que as atitudes e comportamentos no palco e fora dele devem ser estabelecidos.
2. Se a base foi bem sedimentada, o diretor pode se orientar diretamente para a ação no palco sem perigo de intromissão na criatividade dos atores, ou do aparecimento de uma qualidade estática. Ele pode persuadir, implorar, gritar, e dar os passos precisos sem desenvolver ansiedades nem parar a espontaneidade. Não haverá perigo de ele impedir ou bloquear o trabalho dos atores no palco.
3. Alguns exercícios da primeira parte podem ser continuados aqui, se necessário.
4. A energia do diretor deve estar num nível alto e aparente para os atores.
5. Observe se não há sinais de bolor e corrija-os rapidamente.
6. Trabalhe para uma caracterização mais intensificada. As nuances de marcação e atividade também são importantes e devem ser assinaladas.
7. Os ensaios localizados, quando feitos, devem ser levados a cabo completamente, repetindo uma cena várias vezes até que a completa realização e clímax tenham sido alcançados.
8. Use o problema de atuação da oficina de trabalho nos ensaios localizados quando necessário.
9. Se o elenco todo pode se encontrar três vezes por semana, o diretor deve trabalhar diariamente com ensaios localizados.
10. O diretor deve começar a construir as cenas uma sobre a outra. Cada cena tem seu próprio começo e fim, e seu próprio clímax. Cada cena subseqüente deve estar acima da anterior - como uma série de degraus, um pouco mais alto que o anterior.
11. Após o grande clímax da peça, as cenas subseqüentes caminham suavemente para o final.
12. Trabalhe, sempre que possível, ao ar livre. A necessidade de suplantar as distrações do ambiente externo amadurece os atores.
13. Faça os atores ensaiarem descalços e de calções (se o clima permitir). Você poderá então observar todas as ações corporais e dizer rapidamente se um ator está verbalizando ou fisicalizando a situação do palco.
14. Além de observar, ouça seus atores. Vire-se de costas para o palco e concentre-se no diálogo somente. As leituras superficiais, as falas descuidadas e não trabalhadas etc. aparecerão muito claramente para o diretor.
15. O diretor não deve permitir que um sentido de urgência faça com que ele interrompa um ensaio corrido. Tome nota da ação que pode ser repetida mais tarde. Lembre-se, há muito tempo para trabalhar.
16. Se os atores parecem estar trabalhando em desacordo com o diretor, ele deve verificar o tema geral. Existe um tema geral? O elenco e o diretor estão trilhando o mesmo caminho?
17. O terceiro ato pode aparecer por si mesmo. Propicie mais trabalho e ensaios localizados para o primeiro e segundo atos. Se o relacionamento e os personagens estiverem bem estabelecidos, o terceiro dá a solução da peça.
18. Algumas cenas precisam ser repetidas uma dúzia de vezes para que corram suavemente. Outras precisam de muito pouco trabalho, além dos ensaios regulares. Qualquer cena que tenha efeitos especiais não deve parecer desajeitada e sem graça na apresentação do espetáculo, mesmo que isto custe horas de trabalho.
3ª parte
Este é o período de polimento. A jóia foi cortada e avaliada, agora você deve terminar a lapidação e embalar adequadamente. A disciplina deve estar em seu grau mais alto. Os atrasos para os ensaios e a não leitura do quadro de avisos do diretor devem ser tratados severamente. O diretor está agora preparando seus atores para um espetáculo, no qual um ator atrasado ou um adereço de cena fora do lugar pode arruinar todo o trabalho.
A organização dos bastidores deve começar simultaneamente ao trabalho de palco, e as regras devem ser observadas. Na maioria dos teatros pequenos, a equipe também é composta de pessoal não profissional. Contra-regras, sonoplastas e iluminadores devem prestar tanta atenção e assumir responsabilidade como os atores; sua responsabilidade deve ser formada ensaio após ensaio. Qualquer criança de 10 anos pode trabalhar no controle das luzes eficientemente se todos demonstrarem respeito por ela e ao seu trabalho.
Ensaios localizados
Na terceira parte dos ensaios, o diretor encontrará muitos pontos sutis que precisam ser trabalhados. A essa altura do trabalho, os ensaios corridos devem acontecer suavemente, o processo de amadurecimento já deve ter ocorrido, e as caracterizações estão bem configuradas. O diretor pode ir além disso com atores não profissionais? O problema de ritmo e sentido de tempo e as distinções mais sutis de personagem estão além do alcance? O ritmo, o sentido de tempo e os detalhes mais aprimorados do personagem desenvolvem-se a partir da realidade essencial da cena.
Este é o ponto onde o ensaio localizado é de inestimável valor, pois a descoberta dessa realidade sempre acontece aqui. O diretor deve programar tantos ensaios localizados quanto possível durante este período. Mesmo que os atores possam ir aos ensaios somente três vezes por semana, ele pode programar ensaios localizados para cada dia.
A reavalização do diretor
O diretor deve agora reler a sua peça num lugar calmo, sem as tensões do teatro. A peça agora será mais do que uma projeção do seu ideal. Ele estará encontrando-se com o autor novamente, e como um médico que observa os sintomas de seu paciente, ele irá provavelmente ver quais são os problemas do seu espetáculo – e isto enquanto ainda tem tempo para trabalhar e solucionar.
A releitura ajudará o diretor a manter a realidade e o tema, observando a ação da peça e descobrindo onde ela está indo. Ele verá seus atores em movimento e será capaz de identificar as nuances que podem ser acrescentadas aos personagens, as maneiras de fortalecer climas, de construir o clímax etc. Tudo isso virá rapidamente com esse novo contato com o texto.
Pela primeira vez o diretor poderá coordenar num quadro definido todas as confusas imagens dos ensaios. Ele poderá visualizar o palco em dimensão, cor e ação. Isso irá aliviar suas ansiedades da mesma maneira que o Ensaio Relaxado alivia os atores. Sem dúvida, ele verá seu espetáculo.
Ver o espetáculo
“Ver o espetáculo” é simplesmente o diretor ter uma compreensão maior de sua produção – o momento quando ele repentinamente vê todos os aspectos integrados. De repente haverá ritmo, caracterização, fluência e unidade. Muitas cenas podem ainda estar sem polimento, o cenário longe de estar terminado, e alguns atores ainda perambulando pelo palco; mas, no todo, aparecerá um trabalho coeso, unificado.
O diretor pode ver esse espetáculo unificado por um instante e não vê-lo mais por vários ensaios. Mas isso não é causa para preocupação - ele viu, ele verá novamente. Ele deve limpar os pontos mais obscuros, fortalecer os relacionamentos, intensificar o envolvimento e fazer algumas alterações.
Uma vez que ele tenha “visto o espetáculo”, ele deve aceitá-lo mesmo que sinta que deveria ser diferente. Esta é a coisa mais importante. Há poucos diretores que não ficam completamente satisfeitos com suas produções. Para trabalhar com jovens e adultos não experientes, o diretor deve estar consciente das suas limitações e capacidades. Se ele não estiver satisfeito com o seu espetáculo por causa da limitação dos seus atores, ele deve, contudo, reconhecer que neste estágio de desenvolvimento, isso é tudo que ele pode esperar deles. Se houver integridade, vida, atuação verdadeira e alegria no espetáculo, então será um trabalho digno de ser visto.
O medo do palco no diretor
Se o diretor não aceitar seu espetáculo neste período adiantado, ele passará seus problemas emocionais para seus atores. A esta altura do trabalho ele fica com “medo do palco”. Ele fica preocupado com a possibilidade da platéia gostar ou não do seu espetáculo. Este sentimento deve ser ocultado dos atores. O próprio processo de fazer um espetáculo tem uma grande dose de excitação natural. Se ele acrescentar seu próprio sentimento de nervosismo, os atores pegarão isso dele. Durante esse período, o diretor pode sentir-se irritadiço, e seria aconselhável que ele explicasse aos atores, avisando que ele às vezes pode ser áspero e grosseiro durante o processo de integração dos elementos técnicos da peça. Os atores serão muito solidários para com ele.
O diretor que preocupa seus atores até o último minuto, esperando sempre tirar um pouco mais deles, não auxiliará a peça de maneira alguma. Uma forma de evitar esse “medo do palco” é dedicar-se aos aspectos técnicos da peça nos últimos ensaios.
Sugestões finais
1. Fique longe dos bastidores durante o espetáculo. Tudo deve ser tão bem organizado que corra sem problemas. Recados podem sempre ser mandados para os bastidores, se necessário.
2. Certifique-se de que os figurinos estão todos com botões e com as costuras em ordem. Um corredor que não tem certeza se o seu calção vai ficar bem preso à cintura ou não, não estará livre para correr.
3. Seja calmo e agradável se tiver que ir até os camarins.
4. Dê uma passada geral na peça entre os espetáculos, se possível. Se isto não for possível, uma rápida conversa após o espetáculo ajudará a eliminar algumas pequenas falhas que possam eventualmente aparecer.
5. Uma rápida passada para verificar as falas antes do espetáculo pode ser necessário de vez em quando.
6. Ensaios durante uma temporada de uma peça ajudam os atores a manter o foco nos problemas da peça e evitam que eles generalizem. Eles também deixam muito claras as falhas que apareceram.
7. Os atores devem aprender a deixar a platéia rir à vontade. Desde o início comece a treiná-los com a simples regra de permitir que o riso atinja seu pico para então começar a baixá-lo com um movimento antes de começar a próxima fala.
8. A disciplina nos bastidores deve ser observada estritamente e sempre.
9. Os atores crescerão em estatura durante os espetáculos se todos os fatores permitirem. O palco é o raio X, onde todos os elementos estruturais aparecem. Se a peça for apresentada de maneira desajeitada, se seus “ossos” forem fracos, isto tudo será visto, assim como qualquer objeto estranho num raio X. As caracterizações e relacionamentos falsos e desonestos aparecerão. Isto pode ser compreendido e deve ser enfatizado para os atores sempre que necessário.
10. Trabalhar segundo o plano de ensaio sugerido neste capítulo pode não produzir um ator completamente amadurecido em seu primeiro espetáculo, mas o colocará bem a caminho.
11. Se, no final de uma série de espetáculos, os atores decidirem “enterrar o espetáculo”, lembre-os que o último espetáculo para eles é o primeiro para a platéia. O divertimento deve vir do próprio espetáculo, e não de brincadeiras de mau gosto feitas com seus colegas atores.
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Olá
ResponderExcluirAdorei o artigo.
Vou passar por uma prova prática e oral de direção teatral e isso vai ajudar muito.
Ja li o Jogo Teatral no livro do Diretor, de Viola Spolin, fantástico. Estou louca pra comprar esse de Improvisação.