domingo, 1 de fevereiro de 2009

Teatro/CRÍTICA

"O apocalipse segundo Domingos Oliveira"

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Excesso de palavras minimiza ótimo tema


Lionel Fischer


Quem nos acompanha, ao longo desses 20 anos, em nossa atividade de crítico teatral (jornais O Globo, Última Hora e Tribuna da Imprensa, revistas Manhete e Visão), sabe que nutrimos enorme admiração por Domingos Oliveira. Chegamos muitas vezes, inclusive, a apontá-lo como nosso maior "especialista" em questões relativas ao amor - os que assistiram, por exemplo, a "Amores" e "Separações" haverão de concordar conosco.
Mas o que sempre nos surpreendeu - ou o que mais nos surpreendeu - é a capacidade de Domingos de inserir, nas questões amorosas, pertinentes e saborosas reflexões sobre a vida e a morte, certamente fruto de seu vasto conhecimento no campo da filosofia, sendo tais reflexões inseridas na trama de forma absolutamente orgânica, e não como conceituações impostas à narrativa.
Portanto, achamos perfeitamente coerente que Domingos tenha se proposto a encenar um espetáculo como este, cujo tema central é a desolação de Deus perante sua maior criação, no caso, o homem - este "produto" não teria dado certo por uma série de razões, que incluem a suposta dicotomia entre amor e sexo, a irremediável finitude da vida e das paixões, o excesso ou ausência de libido etc. E tenha decidido que o clímax do texto fosse o Juízo Final, no qual Deus julgaria não apenas algumas atitudes humanas, mas também assumiria sua parcela de responsabilidade no caos que ele próprio fomentara.
E para encenar a presente montagem, imaginamos (por ausência de maiores informações) que Domingos possa ter realizado uma oficina para selecionar o elenco. Também podemos imaginar duas hipóteses: o texto já estaria escrito ou foi sendo criado - ou aprimorado - à medida que trabalhava com o numeroso grupo, sendo que em cena estão presentes "33 mulheres bonitas" e "15 rapazes jeitosos", como consta do programa.
Em cartaz na Casa de Cultura Laura Alvim, "Apocalipse segundo Domingos Oliveira" tem texto e direção do autor, e marca a estréia do Grupo Fúria - Adriano Pettermann, Alex Steinmann, Amaralina Frota, Ana Beatriz Baldessarini, Anna Carolina Moraes, Ana Cecília Baetas, Andréa Claudia, Ana Magdalena, Beto Guedes, Bianca Montanas, Brenda Jaci, Camila Pinheiro, Carlos Thiago, Clarissa Kahane, Claudia Stock, Diego Oliveira, Fernanda Mello, Gabriel Verani, Glauce Guima, Greice Damas, Hugo Madureira, Joana Citrinowicz, Jorge Mandarino, José Augusto Kamel, José Roberto Oliveira, Juliana Nasciutti, Luana Salazar, Luiz Pommodoro, Luiza Faria, Luzino Nogueira, Parcelo Pio, Marcelo Pires, Martha Tupper, Marwin Reis, Mayra Villela, Maria Baptista, Mônica Montone, Nara Passos, Patrícia Carlotti, Rachel Pereira, Regina Ramos, Ricardo Vilela, Rose Lima, Simone Soares, Sophie Charlote, Stephano Matolla, Tereza Hermany, Ticiana Pereira Azambuja, Wesley May, Wanessa Machado e Ziza Fagundes. O espetáculo é protagonizado por Matheus Souza (Deus), cabendo a Domingos uma breve participação na pele do Poeta.
Por se tratar de um autor de exepcional qualidade, é claro que o presente texto não deixa de exibir méritos. No entanto, peca pelo excesso de palavras e de discussões que em nada colaboram para a fluência da narrativa - cabe registrar que a fluência sempre foi uma das características mais marcantes de toda a dramaturgia de Domingos, assim como seu poder de concisão.
Com relação ao espetáculo, este exibe passagens expressivas, sem dúvida, mas ainda assim incapazes de compensar o que acaba de ser dito no parágrafo anterior.
No tocante ao elenco, estranhamos que apenas um ator tenha sido citado no papel que interpreta, ainda que lhe caiba materializar o proptagonista - afinal, muitos outros atores têm participações significativas, como os que fazem o Diabo e a Vida, apenas para citar dois exemplos. Portanto, e por uma questão de justiça, renunciamos a analisar o desempenho de Matheus Souza, optando por fazê-lo em uma próxima oportunidade.
Com relação à equipe técnica, Leobruno Gama e Ronald Teixeira assinam uma cenografia funcional e expressiva, sendo corretos os figurinos também de responsabilidade da dupla. Cadu Fávero ilumina a cena com competência e sensibilidade, cabendo ainda destacar a preparação corporal e coreografias de Joana Ribeiro.

APOCALIPSE SEGUNDO DOMINGOS OLIVEIRA - Texto e direção de Domingos Oliveira. Com o Grupo Fúria. Casa de Cultura Laura Alvim. Sexta e sábado, 21h. Domingo, 20h.

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