segunda-feira, 30 de março de 2009

Teatro/CRÍTICA

"Avenida Q."

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Versão impecável de ótimo musical


Lionel Fischer


"Imagine um lugar onde convivem em harmonia moças e 'monstras' de família, artistas frustrados, ex-celebridades, trabalhadores desempregados, devassas, solteironas amarguradas, orientais ranzinzas, gays com um pé fora do armário, tarados virtuais, ursinhos de pelúcia maléficos, humanos e bonecos igualmente desbocados e irreverentes. Esta é a 'Avenida Q.', musical que surgiu de mansinho em 2003 no circuito Off-Broadway e apenas quatro meses depois estreou no Golden Theater, de onde nunca mais saiu de cartaz, sagrando-se vencedor de três Tony's: Melhor Musical, Melhor Música Original e Melhor Libreto".
Este trecho, extraído do ótimo release que nos foi enviado, possibilita uma idéia precisa do espetáculo, em cartaz no Teatro Clara Nunes. Com direção assinada por Charles Moëller e Claudio Botelho, "Avenida Q." - texto de Jeff Whity, letras e músicas de Robert Lopez e Jeff Marx - chega à cena com elenco formado por Sabrina Korgut (Kate Monstra e Lucy de Vassa), André Dias (Princepton e Rod), Claudia Netto (JapaNeuza), Fred Silveira (Nicky e Trekkie Monstro), Renato Rabelo (Brian), Mauricio Xavier (Gary Coleman), Renata Ricci (Dona Coisa Ruim, Ursinha do Mal e Ricky) e Gustavo Klein (Ursinho do Mal e Recém-chegado). Os atores são acompanhados por uma banda - que não é vista - formada por Zaida Valentim (teclado 1 e regência), Heberth Souza (teclado 2), Thiago Trajano (guitarra, banjo e violão), Márcio Romano (bateria), Omar Cavalheiro (baixo elétrico e acústico) e Alex Freitas (sax, flauta e clarinete).
Centrado na história de Princeton - um jovem recém formado que chega à capital em busca de uma nova vida - o musical nos mostra o encontro dele com vários personagens, todos eles exibindo variadas carências e frustrações. E são justamente estas últimas que conferem pertinência a uma estrutura narrativa bastante simples e quase sempre muito engraçada. Mas o humor, no presente caso, não é trabalhado de maneira leviana e inconsequente, mas de forma crítica, o que confere ao espetáculo uma dimensão muito além do mero entretenimento.
Com relação à montagem, esta exibe, como de hábito, a inquestionável qualidade da griffe Botelho/Moëller: marcações divertidas, imprevistas e criativas, ritmo preciso, atores maravilhosamente ensaiados, super disciplinados e sempre exibindo enorme prazer de estar em um palco contracenando com total entrega. Estamos, sem dúvida, diante de uma montagem que reúne todas as condições para se converter em um dos maiores destaques da atual temporada.
Quanto ao elenco, de tão harmoniso e integrado - inclusive no que concerne à manipulação dos bonecos -, seria injusto conferir algum destaque especial a qualquer dos profissionais que estão em cena. Entretanto, como eventuais "injustiças" fazem parte da natureza humana - e um crítico, apesar das aparências, também pertence à curiosa população de bípedes que habita este planeta -, não resistimos em afirmar o que se segue: Sabrina Korgut, André Dias e Cláudia Netto permanecerão por muito tempo em nossa lembrança, da mesma forma que acreditamos que o público levará muito tempo para esquecer - se é que o fará - performances tão notáveis e encantadoras.
Na equipe técnica, destacamos com o mesmo entusiasmo o deslumbrante trabalho de todos os profissionais envolvidos nesta produção impecável - Claudio Botelho (tradução e adaptação das letras), Rogério Falcão (cenografia), Mareu Nitschke (figurinos), Paulo César Medeiros (iluminação), Marcelo Castro (direção musical) e Rick Lyon, que concebeu e desenhou os 16 bonecos, vindos dos Estados Unidos.

AVENIDA Q. - Texto de Jeff Whity, letras e músicas de Robert Lopez e Jeff Marx. Direção de Claudio Botelho e Charles Moëller. Com Sabrina Korgut, André Dias, Claudia Netto e outros. Teatro Clara Nunes. Quinta e sexta, 21h30. Sábado, 17h e 21h30. Domingo, 20h.

2 comentários:

  1. Po Lionel concordo com tudo!
    Avenida Q é realmente sensacional!
    Eu ja conhecia antes o musical e essa versão ficou realmente muito boa.
    Um dia, quem sabe, com muito trabalho e esforço, eu não consigo fazer parte de uma produção dessas ^_^
    Bjkas!
    Cabelo

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  2. Caro Lionel!!

    Não sei se é "certo" eu comentar a crítica. Mas queria dizer que desde uma palestra que deste na Uni-Rio para minha turma sobre o trabalho do crítico, você mudou a minha percepção das coisas. E Me fez admirar ainda mais seu trabalho! (engraçado que estava comentando com meu primo sobre isso hoje!)

    Aproveito e agradeço as palavras sobre o espetáculo

    Um Grande Abraço!

    Gustavo Klein

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