quarta-feira, 13 de maio de 2009

Teatro/CRÍTICA

"Confronto"
(Sangrenta madrugada sangrenta)

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Ótimo texto em versão primorosa


Lionel Fischer


No início deste século, Luiz Felipe Soares - que em sua juventude chegou a estudar teatro com Sérgio Britto, sendo na época conhecido como "Motor" ou "Motorzinho" pelos mais íntimos - ocupava o cargo de Secretário de Segurança do Estado. Humanista e intelectual, acreditava que poderia enfrentar os corruptos e todas as deformações inerentes ao sistema. Lutou o quando pôde, mas acabou tendo que renunciar e, ameaçado de morte, chegou até mesmo a sair do país. Ao regressar, escreveu "Elite da tropa", em parceria com André Batista e Rodrigo Pimentel, livro que deu origem ao filme "Tropa de elite".
Agora, Luiz Eduardo, Domingos Oliveira e Marcia Zanelatto assinam a peça "Confronto" (Sangrenta madrugada sangrenta), livremente inspirada em "Elite da tropa", cujo enredo aborda não tanto as ações policiais propriamente ditas, mas as diabólicas maquinações dos que estão no topo da Segurança do Estado.
Em cartaz no Espaço Sesc, "Confronto" chega à cena com Direção de Domingos Oliveira e elenco formado por Michel Bercovith (Luiz Felipe, Secretário de Segurança), Camilo Bevilacqua (Vitor Graça, chefe da Polícia Civil), Delson Antunes (Santiago, capitão da PM), Renata Paschoal (Renata Palhares, assistente social em Bangu I), Luiz B. Neto (Fraga, comandante da PM), José Roberto de Oliveira (delegado Luizão França), Paulo Giardini (Governador da cidade), Moisés Bittencourt (Amílcar, do Serviço de Inteligência), Fernando Gomes (Vaz, da Inteligência), Rose Abdahlla (Alicia, secretária de Luiz Felipe), Marcello Pio (Moisés, chefe do Comando Vermelho), Graziella Schmitt (Michele, ex-stripper, mulher do traficante), Marcelo Mendonça (Baby, psicólogo e amigo de Renata), Alexandre Mofati (Aliosto e piloto), Adriano Pettermann (reporter e diretor do presídio), Eduardo Bastos (camareiro de Michele), Lincoln Vargas (Sininho), Lori Santos (Paraná, do Terceiro Comando) e Luiz Machado (Miranda).
Sendo a ação conduzida por um narrador em off (Domingos Oliveira), aos poucos a platéia vai se dando conta de uma série de horrores inerentes ao Poder e sua infinita capacidade de empreender maquinações sinistras visando materializar seus sórdidos interesses. Sem dúvida, trata-se de uma realidade paralela à qual a opinião pública jamais tem acesso, posto que os órgãos de comunicação, de uma maneira geral, ou desconhcem os meandros desta mencionada realidade ou não têm o menor interesse em divulgá-la - e isto por razões que a razão certamente conhece...
Bem escrito, contendo ótimos personagens e uma ação que prende por completo a atenção do espectador, "Confronto" se insere no seleto rol de textos indispensáveis, posto que não apenas denuncia a podridão de todo o sistema como instiga a platéia a refletir sobre possíveis maneiras de modificá-la. Em vista disso, comparecer ao Espaço Sesc torna-se uma obrigação para todos aqueles que ainda alimentam alguma esperança de viver em um país imune a determinados vírus que só contribuem para arruiná-lo.
Com relação ao espetáculo, Domingos Oliveira impõe à cena uma dinâmica agil, eletrizante e muito expressiva, conseguindo sempre manter o indispensável clima de expectativa na platéia. Tal êxito também se dá, naturalmente, em face do ótimo rendimento da maior parte do elenco,
com especial destaque para Michel Bercovitch, Camilo Bevilacqua, Renata Paschoal, Paulo Giardini e Rose Abdahlla, com os demais exibindo atuações seguras.
Na equipe técnica, a correção é a tônica nos trabalhos de Ronald Teixeira e Leobruno Gama (cenário e figurinos) e Russinho (iluminação, com supervisão de Maneco Quinderé).

CONFRONTO - Texto de Domingos Oliveira, Luiz Eduardo Soares e Marcia Zanelatto. Direção de Domingos Oliveira. Com Michel Bercovitch, Camilo Bevilacqua e grande elenco. Espaço Sesc. Quinta a sábado, 21h. Domingo, 19h30.

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