quinta-feira, 9 de junho de 2011

Teatro/CRÍTICA

"Cyrano de Bergerac"

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Obra-prima em ótima versão


Lionel Fischer


Poeta, ensaísta e dramaturgo, o francês Edmond Rostand (1868-1918) ficou célebre sobretudo graças à peça "Cyrano de Bergerac", que, merecidamente, atingiu o estatus de um clássico. Encenado com freqüência em todo o mundo e já transposto para o cinema, o texto ganha agora uma nova versão, em cartaz no Teatro I do Centro Cultural Banco do Brasil.

Com direção assinada por João Fonseca, esta deslumbrante obra-prima chega à cena com elenco formado por Bruce Gomlevsky, Julia Carrera, Sérgio Guizé, Gaspar Filho, Gustavo Mello, Gláucio Gomes, Ricardo Tostes, Dida Camero, Ian Korich, Ricardo Ventura, Gustavo Damasceno, Arthur Brandão, Ivan Vellame, Tatsu Carvalho e Yasmin Gomlevsky.

"O enredo da peça é bem simples. Três homens, Cyrano, Christian e o conde De Guiche interessam-se pela mesma mulher, Roxane, e tentam ganhar o coração dela, cada um à sua maneira. Cyrano ama-a profundamente, Christian está apaixonado por ela e De Guiche gosta dela mas, por ser um aristocrata, o que quer mesmo é exibi-la na corte. Os três são soldados e demonstram ter fibra quando a situação exige. O que coloca Cyrano acima dos outros é o seu humanismo. E também o seu idealismo exacerbado".

O trecho acima, extraído do programa e assinado por Marcos Daud
(responsável pela ótima tradução do texto), sintetiza a postura dos três pretendentes. Mas para os que não leram a obra ou a viram encenada, acrescentaria alguns detalhes, tais como o imenso nariz de Cyrano - que se considera feio a ponto de não merecer o amor de uma mulher - e o fato de ele ser temido espadachim e formidável poeta. Quanto a outros pormenores da trama, e sempre pensando naqueles que não a conhecem, prefiro não revelá-los.

No entanto, cumpre ressaltar a beleza do texto, certamente escrito para confrontar os valores burgueses da época, que cada vez mais pareciam distanciar-se de qualquer coisa que pudesse, ainda que vagamente, ter alguma relação com honra, solidariedade, altruísmo e dignidade. E é por isso que o protagonista assumiu uma dimensão quase heróica, graças à sua inabalável crença de que o homem jamais poderia assim intitular-se se desprezasse o que de mais precioso continha em sua essência.

Quanto ao espetáculo, João Fonseca impõe à cena uma dinâmica em total sintonia com os conteúdos em jogo, valorizando com extrema competência tanto as partes mais dramáticas quanto aquelas em que o humor predomina. Cabe também registrar a precisão rítmica do espetáculo, cuja fluência certamente impedirá  qualquer espectador de consultar discretamente seu relógio.

No tocante ao elenco, Bruce Gomlevsky, na pele do protagonista, exibe aqui uma das mais brilhantes performances de sua sólida carreira. Apropriando-se por completo do personagem, dele extrai tudo o que é possível, valorizando tanto suas bravatas como seu lirismo e humanidade.

Julia Carrera também consegue convencer em todos os momentos vivendo Roxane, mulher cuja beleza não a impede de ser completamente apaixonada por belas palavras. Gaspar Filho encarna com segurança o arrogante conde De Guiche, o mesmo ocorrendo com os demais intérpretes, a maior parte dando vida a mais de um personagem.

Na equipe técnica, Nello Marrese responde por uma cenografia despojada e funcional, composta basicamente por mesas e cadeiras, cuja manipulação cria sucessivos ambientes. Luiz Paulo Nenen assina uma iluminação muito expressiva, sendo irretocáveis os figurinos de Inês Salgado. Cabe ainda registrar a excelência das contribuições de Marcelo Alonso Neves (direção musical e trilha sonora original), Vavá Torres (visagismo), Marcia Marques (adereços), Gaspar Filho (mestre de armas/ esgrima) e Johayne Hildefonso (maravilhosa direção de movimento).

CYRANO DE BERGERAC - Texto de Edmond Rostand. Direção de João Fonseca. Com Bruce Gomlevsky, Julia Carrera e grande elenco. Teatro I do CCBB. Quarta a domingo, 20h.

Um comentário:

  1. Perdão, mas não concordo com a ideia de equilíbrio entre a comédia e o drama nessa versão. Infelizmente não houve a densidade dramática em determinados momentos que até descambaram para a comédia inoportunamente.

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