terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Cinema e Loucura:
conhecendo os transtornos mentais
através dos filmes

Paula de Figueiredo Lopes Rego


O título escolhido para a obra da presente resenha fala por si mesmo: CINEMA E LOUCURA - Transtornos Mentais através dos Filmes, utiliza de forma criativa e explicativa, personagens de filmes nacionais e internacionais para ilustrar transtornos mentais. A proposta de J. Landeira-Fernandez (professor de graduação e da pós-graduação em Psicologia Clínica da PUC-RJ) e Elie Cheniaux (especialista em psiquiatria pela Associação Brasileira de Psiquiatria) é utilizar o cinema como introdução à área dos transtornos mentais e como ferramenta de ensino.

Os autores não pretendem com isso que os casos descritos no livro sejam tomados como casos clínicos, uma vez que não se trata de pessoas de carne e osso e, sim, de personagens, mas que o abundante material oferecido, fruto de três anos de trabalho, sirva de complemento à atividade de examinar pacientes, em especial no caso de estudantes que não têm acesso, ou têm acesso limitado, a hospitais e ambulatórios.

As patologias descritas no livro são as seguintes: transtornos cognitivos, transtornos mentais relacionados a substâncias, transtornos psicóticos, transtornos do humor, transtornos de ansiedade, transtornos somatoformes, transtornos dissociativos, transtornos factícios e simulação, transtornos da sexualiudade, transtornos da alimentação, transtornos do sono, transtornos do controle dos impulsos, transtornos da personalidade, transtornos mentais da infância e da adolescência.

A escolha dos filmes foi feita de maneira planejada para que pudessem ser identificados nos personagens alguns dos transtornos mentais citados. Em cada capítulo, é relatada uma média de vinte a vinte e cinco exemplos de filmes. Primeiro, oferece-se um sumário da descrição médica do transtorno, depois, uma análise crítica do filme, demonstrando os aspectos reais ou irreais das patologias apresentadas pelos personagens.

Um dos filmes citados é "Máfia no divã", em que Robert De Niro interpreta um poderoso mafioso que recebe um diagnóstico de transtorno de pânico após escapar de um atentado em que morre um amigo seu. Como relatado, o diagnóstico de transtorno de pânico refere-se a situações geradoras de muito estresse, e, de mareira realista, Robert De Niro interpreta com características que se encaixam neste diagnóstico, apresentando sintomas como sensação de sufocação, dores no peito e medo de ter novos ataques.

Apesar da relação destes transtornos com os filmes, observa-se que a loucura é relatada em muitos como reflexo do que em geral a sociedade e leigos no assunto o fazem, aglutinando características que não se encaixam nos padrões de normalidade. No entanto, filmes são filmes, as regras que balizam a construção de um enredo e norteiam a caracterização de um personagem são artísticas (embora o autor acrescente também um documentário ao seu livro). E, como tal, por vezes, desvirtuam as patologias.

Na descrição do filme "Uma mente brilhante", não se retrata de forma real as características de um transtorno psicótico: o personagem tem aluninações visuais, que é um sintoma raro em esquizofrênicos, assim como o fato de possuir alucinações relacionadas a mais de uma modalidade sensorial ao mesmo tempo, como por exemplo a auditiva, a tátil e a visual, algo bastante improvável neste transtorno. Outra característica que é distorcida é que o personagem se casa e por fim tem uma evolução positiva em relação a sua doença, o que não se encaixa no prognóstico da esquizofrenia.

O filme "Estamira", ao contrário, relata de modo fidedigno - já que se trata de um documentário - um transtorno psicótico, a saber, a esquizofrenia. Estamira, a senhora que dá nome ao filme, apresenta características alucinatórias, pensamento suicida, e demonstra um estado delirante.

Cinema e Loucura possui um estilo preciso e conciso, o que permite que o leitor leigo tenha acesso aos conceitos complexos de forma coerente e facilitada, nos dando oportunidade de confrontar a arte com a medicina de uma maneira inovadora. É um livro que atinge com excelência os objetivos a que se propôs, sendo uma ferramenta muito boa e divertida. Une os aspectos essenciais da teoria às demonstrações práticas, desenvolvendo em estilo didático uma leitura prazerosa e prática.
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Paula de Figueiredo Lopes Rego é candidata do IEP da Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro. O presente artigo foi extraído de "Psicanalítica", órgão oficial da Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro.
Volume XI, nº I - 2010.

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