sábado, 24 de junho de 2017

Teatro/CRÍTICA

"Alair"

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Belo encontro com um artista notável


Lionel Fischer



"Engenheiro de formação, filósofo, escritor, estudioso e crítico de arte, Alair Gomes (1921-1992) foi reconhecido como precursor da fotografia homoerótica no Brasil, conquistando a consagração internacional com seu trabalho, que reuniu mais de 170 mil negativos cujo tema central era a beleza do corpo masculino. 
Ambientada no apartamento/estúdio de Alair em Ipanema, a montagem nos mostra o encontro do artista com um jovem, que ali está para uma sessão de fotos. Esse encontro deflagra um turbilhão de lembranças e pensamentos de Alair sobre amor, arte, beleza e morte".

Extraído (e levemente editado) do ótimo release que me foi enviado, o trecho acima resume a trajetória artística de Alair Gomes e o contexto da peça, em cartaz na Casa de Cultura Laura Alvim. Gustavo Pinheiro responde pelo texto, escrito a partir dos diários de Alair Gomes, cabendo a direção do espetáculo a Cesar Augusto. No elenco, Edwin Luisi (Alair), Andre Rosa e Raphael Sander - os dois últimos dão vida a diferentes personagens da história do fotógrafo, e também recriam, ao longo do espetáculo, imagens icônicas de suas fotos.

Alternando conversas diretas com a plateia e a relação de Alair com seus jovens modelos, o texto possibilita um profundo mergulho tanto na personalidade do artista quanto na do homem. O artista viaja pelo mundo, encanta-se com as obras dos grandes mestres e tece sensíveis considerações sobre a arte. O homem, em sua paixão por outros homens, é também um artista, pois os encara não apenas como objetos de desejo puramente físico - embora este lado não deixe de estar presente -, mas também como possibilidade de entrar em estreito, íntimo e visceral contato com a beleza. 

Com relação ao espetáculo, Cesar Augusto impõe à cena uma dinâmica em total sintonia com as premissas essenciais do ótimo texto de Gustavo Pinheiro. Explorando a soturna iluminação de Tomás Ribas, quase sempre estruturada através de efeitos de claro/escuro (só eventualmente alterados por focos isolados), o encenador consegue materializar as principais características de uma personalidade ao mesmo tempo solar e angustiada, cabendo também ressaltar a expressividade advinda da relação entre os personagens e as projeções, não raro belíssimas. Além disso, cumpre ressaltar sua atuação junto ao elenco, e, em especial, Edwin Luisi.

Sem dúvida um dos melhores e mais premiados atores nacionais, aqui Edwin Luisi exibe alguns de seus mais notáveis predicados, tais como carisma, forte presença, domínio técnico e uma inteligência cênica que o impede de enveredar por caminhos já explorados com sucesso, assim evitando tornar-se uma espécie de parasita de suas próprias conquistas. Ver Edwin Luisi em cena é sempre um privilégio, e a ele agradeço por mais este belo encontro que tivemos. No tocante a Andre Rosa e Raphael Sander, ambos cumprem com eficiência e dignidade seus papéis, sem qualquer resquício de vulgaridade.

No complemento da ficha técnica, Mariana Villas Boas responde por expressiva cenografia, a mesma expressividade presente nos figurinos de Ticiana Passos, na trilha sonora de Rodrigo Marçal, no videografismo de Renato Krueger e no visagismo de Marcio Mello, cabendo também ressaltar a beleza das fotos projetadas de Alair Gomes.

ALAIR - Texto de Gustavo Pinheiro. Direção de Cesar Augusto. Com Edwin Luisi, Andre Rosa e Raphael Sander. Casa de Cultura Laura Alvim. Quarta a sábado, 21h. Domingo, 20h. 




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