segunda-feira, 22 de junho de 2009

Teatro/CRÍTICA

"O zoológico de vidro"

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Obra-prima em excelente versão


Lionel Fischer


Um dos maiores representantes do drama psicológico-realista dos Estados Unidos dos anos 40 e 50, Tennessee Williams (1911-1983) revela nítida influência de O'Neill, Ibsen e Strinberg. Filho de um caixeiro-viajante, exerceu muitas profissões, enquanto cursava a universidade.
Após escrever algumas peças que não obtiveram maior repercussão, conquistou grande sucesso com "O zoológico de cristal" - aqui traduzida como "O zoológico de vidro" e muitas vezes também nomeada "À margem da vida" -, considerada uma de suas melhores obras e na qual aparecem seus temas prediletos: o choque entre a realidade e a ilusão, a frustração, a solidão e a fragilidade psíquica. Mais adiante Tennessee Williams produziu outras peças notáveis, como "Um bonde chamado desejo", "A rosa tatuada", "Gata em teto de zinco quente", "O doce pássaro da juventude" e "A noite do iguana".

Como já dito no parágrafo inicial, "O zoológico de vidro" foi um marco na carreira de Williams e agora temos a oportunidade de rever esta obra maravilhosa, em cartaz no Teatro Maison de France. Ulysses Cruz reponde pela direção da montagem, que trás no elenco Cássia Kiss (Amanda Wingfield), Kiko Mascarenhas (Tom), Karen Coelho (Laura) e Erom Cordeiro (Jim). A ótima tradução ficou a cargo de Marcos Daud.

Por tratar-se de uma peça por demais conhecida, não julgamos necessário resumir seu enredo e sim destacar imediatamente a altíssima qualidade do espetáculo em questão. Diretor extremamente talentoso e com vasta experiência, Ulysses Cruz impôs à cena uma dinâmica em total sintonia com o texto, valorizando em igual medida tanto seus aspectos cômicos quanto aqueles em que o drama predomina. Valendo-se de marcas diversificadas e expressivas, o encenador consegue materializar todos os conteúdos propostos pelo autor, para tanto contando, evidentemente, com a preciosa colaboração do ótimo elenco.

Na pele de Amanda Wingfield, Cássia Kiss exibe uma atuação notável, conseguindo extrair tudo que é possível do papel, cabendo destacar não apenas seu ótimo trabalho vocal, mas também sua expressividade corporal - ou seja, a atriz atinge aquele ponto tão raro de se obter, que é uma integração absoluta entre o que é expresso através das palavras e também mediante a utilização de gestos e posturas em total consonância com a personalidade retratada. Sem dúvida, uma das melhores performances desta excelente intérprete.

Kiko Mascarenhas também convence plenamente na pele do irônico e atormentado Tom, conseguindo transmitir não apenas sua irritação com a mãe, mas também seu fascínio por ela - ainda que este último o personagem talvez não ouse sequer admitir. Cabe também salientar a capacidade do ator de enfatizar o caráter poético do personagem e seu enorme desejo de escapar do universo claustrofóbico e sem perspectivas em que vive. Karen Coelho encarna com grande sensibilidade a frágil e doentiamente tímida Laura, com Erom Cordeiro exibindo um trabalho irretocável na pele do ambicioso Jim.

Na equipe técnica, destacamos com o mesmo entusiasmo o irrepreensível trabalho de todos os profissionais envolvidos nesta mais do que oportuna produção - Hélio Eichbauer (cenário), Beth Filipecki e Renaldo Machado (figurinos), Domingos Quintiliano (iluminação) e Victor Pozas (música original).

O ZOOLÓGICO DE VIDRO - Texto de Tennessee Williams. Direção de Ulysses Cruz. Com Cássia Kiss, Kiko Mascarenhas, Karen Coelho e Erom Cordeiro. Teatro Maison de France. Sexta e sábado, 20h. Domingo, 19h.

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